Quem o ministro
Joaquim Barbosa pensa que é?
Que poderes
acredita dispor só por estar sentado na cadeira de presidente do Supremo
Tribunal Federal?
Imagina que o país
lhe será grato para sempre pelo modo como procedeu no Caso do Mensalão?
Ora, se foi honesto
e agiu orientado unicamente por sua consciência, nada mais fez do que deveria.
A maioria dos brasileiros o admira por isso. Mas é só, ministro.
Em geral, admiração
costuma ser um sentimento de vida curta. Apaga-se com a passagem do tempo.
Mas enquanto
sobrevive não autoriza ninguém a tratar mal seus semelhantes, a debochar deles,
a humilhá-los, a agir como se a efêmera superioridade que o cargo lhe confere
não fosse de fato efêmera. E não decorresse tão somente do cargo que se ocupa
por obra e graça do sistema de revezamento.
Joaquim preside a
mais alta corte de justiça do país porque chegara sua hora de presidi-la.
Porque antes dele outros dos atuais ministros a presidiram. E porque depois
dele outros tantos a presidirão.
O mandato é de dois
anos. No momento em que uma estrela do mundo jurídico é nomeada ministro de
tribunal superior, passa a ter suas virtudes e conhecimentos exaltados para
muito além da conta. Ou do razoável.
Compreensível, pois
não.
Quem podendo se
aproximar de um juiz e conquistar-lhe a simpatia, prefere se distanciar dele?
Por mais inocente
que seja quem não receia ser alvo um dia de uma falsa acusação? Ao fim e ao
cabo, quem não teme o que emana da autoridade da toga?
Joaquim faz questão
de exercê-la na fronteira do autoritarismo. E por causa disso, vez por outra
derrapa e ultrapassa a fronteira, provocando barulho.
Não é uma questão
de maus modos. Ou da educação que o berço lhe negou, pois não lhe negou. No
caso dele, tem a ver com o entendimento jurássico de que para fazer justiça não
se pode fazer qualquer concessão à afabilidade.
Para entender
melhor Joaquim acrescente-se a cor – sua cor. Há negros que padecem do complexo
de inferioridade. Outros assumem uma postura radicalmente oposta para enfrentar
a discriminação.
Joaquim é assim se
lhe parece. Sua promoção a ministro do STF em nada serviu para suavizar-lhe a
soberba. Pelo contrário.
Joaquim foi
descoberto por um caça talentos de Lula, incumbido de caçar um jurista
talentoso e... negro.
“Jurista é pessoa
versada nas ciências jurídicas, com grande conhecimento de assuntos de
direito”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Falta a Joaquim
“grande conhecimento de assuntos de direito”, atesta a opinião quase unânime de
juristas de primeira linha que preferem não se identificar. Mas ele é negro.
Havia poucos negros
que atendessem às exigências requeridas para vestir a toga de maior prestígio.
E entre eles, disparado, Joaquim era o que tinha o melhor currículo.
Não entrou no STF
enganado. E não se incomodou por ter entrado como entrou.
Quando Lula bateu o
martelo em torno do nome dele, falou meio de brincadeira, meio a sério: “Não vá
sair por aí dizendo que deve sua promoção aos seus vastos conhecimentos. Você
deve à sua cor”.
Joaquim não se
sentiu ofendido. Orgulha-se de sua cor. E sentia-se apto a cumprir a nova
função. Não faz um tipo ao destacar-se por sua independência. É um ministro
independente. Ninguém ousa cabalar seu voto.
Que não perca a
vida por excesso de elegância. (Esse perigo ele não corre.) Mas que também não
ponha a perder tudo o que conseguiu até aqui.
Julgue e deixe os
outros julgarem.