Estive no Odécio Degan, nos
dois primeiros dias do Projeto “Este Bairro é Meu”, não me dei conta de que
neste mesmo período, precisamente os dias 23 e 24 de Fevereiro de 2012, vivemos
em nossa cidade o momento Histórico, provavelmente de maior importância de
nossa trajetória recente. Enquanto levávamos cidadania e paz no bairro até
então com maiores índices de violência e de ausência do estado, a cidade
comemorava o primeiro ano, em que ela cassou pela primeira vez um Prefeito
eleito pelo voto popular.
Tudo começa em uma quinta
feira de sol, mas com ameaças de chuvas, naquele 24 de Novembro de 2011.
Acordamos com a noticia de que a família, parentes e assessores do então Prefeito
Silvio Félix, tinham sido presos, em uma operação envolvendo o Ministério
Público, as Policias Militar e Civil. O motivo, enriquecimento ilícito. A descoberta
dos promotores após anos de investigação, de que o patrimônio dos Felix, não era
condizente com a renda da família e de suas empresas. Para o meio politico, o
fato ocasionou uma certeza, da qual sabíamos alguns meses antes, de que algo
poderia acontecer, que viria denunciar, a corrupção instalada na administração
há sete anos. Para a população, que já não via o governo com bons olhos,
suscitou de imediato, revolta, tristeza, um sentimento de derrota, de ter sido
enganado durante o tempo todo.
Minha cidade estava ferida,
machucada. Uma cidade de gente de bem, trabalhadora, e que viu seu
representante máximo, mentir e enganar da forma mais estupida possível. Minha
cidade viu que o fruto de seu trabalho, do qual ela paga seus impostos, não ser
investido nela mesma e sim estar a serviço para fazer crescer o patrimônio pessoal
de uma minoria. Mas esta cidade não se deixou abater, mesma ferida, ela se levantou
e clamou justiça. Foi as ruas, levantou a bandeira da ética na politica, exigiu
que seus representantes na câmara municipal, não traíssem a vontade popular. Em
todos os cantos da cidade, durante os três meses em que durou o processo de
julgamento do Prefeito, a cidade se manteve mobilizada, lucida e com muita
alegria, proporcionou a todos nós uma verdadeira festa da Democracia.
No dia mais feliz de minha
vida politica recente, as mais variadas tribos, lotaram a casa de leis. Com
sobriedade e responsabilidade, estudantes, operários, empresários, negros,
mulheres, crianças, homossexuais, e outros, pediam a cassação de seu Prefeito.
Após o resultado, a festa aconteceu como uma final de copa do mundo. O grito
parado na garganta se soltou, ficou muito mais forte que o costumeiro. O choro
foi intenso, mas o suficiente para curar as feridas de uma traição, que elevou
a violência urbana, o descaso com a saúde e a educação, o aumento da mortalidade
infantil, prédios públicos depredados e entregues a sorte do crime organizado.
Estas são as consequências da pior instituição pós regime militar. A corrupção
tira a merenda da boca de uma criança, a coloca a mingua, a mercê da exclusão e
do crime.
A retomada do bairro Odécio
Degan, cresce em sua simbologia. Se a corrupção de anos a fio, foi causadora,
do esquecimento de uma população entregue aos ditames de marginais, o projeto “Este
Bairro é Meu”, restabelece a dignidade de um povo sofrido e vitima de
predadores do dinheiro e patrimônio público.
Um ano após a cassação do
Prefeito, algumas lições devem ser tiradas. A primeira de que a organização
popular é fundamental, para obter conquistas. Foi ela a responsável pelo que
aconteceu em 24 de fevereiro de 2012. Outra lição, a cidade não mais suportará
aventureiros e vendedores de ilusão. A população é responsável pelos seus atos,
levanta antes do sol raiar, vai ao trabalho, á escola. É cumpridora de seus
deveres. É ela que constroem a pujança desta cidade. A cidade não aceitará mais
ser enganada, machucada em sua honra e dignidade.
Retomar um bairro vitima
desta praga que é corrupção e devolve-lo a população, é ter compromissos
assumidos não na campanha eleitoral, mas quando o Voto do Prefeito Paulo Hadich
(PSB), então Vereador, disse sim para a cassação do Prefeito de então, um compromisso
em devolver para a cidade, esta mesma cidade, que não é e nunca foi uma fazendona
iluminada, como propagandeavam os amigos do Rei. A cidade é de todos. A cidade
é o espaço não só do trabalho, mas da convivência, da relação de amor, de
solidariedade e de Paz.
Amar Limeira é amar, o
menino de nove anos, que desfilava pelo Centro Comunitário do Odécio Degan,
livremente, sem ser abordado pelo Traficante, sem medo, feliz. Livre para jogar
bola, na quadra pintada e limpa. Livre para aprender uma arte marcial, não para
utilizar como arma para a violência, mas para sua disciplina e relação humana.
Amar Limeira é participar deste momento em que temos que reconstruí-la, e
caminhar para o Nirvana da Paz.