Fui uma pessoa privilegiada
em minha infância. Ou melhor minha geração o foi. Primeiro porque pudemos
conhecer a magia do circo e toda a sua capacidade de fazer uma criança dar asas
a imaginação. Foi através de companhias como Circo de Roma, Orlando Orfei, Di
Napoli e até os pequenos e criativos, como o Limeirense Circo do Veneno é que
tive meu contato com um personagem que fazia Rir, mesmo quando sua performance
era de chorar. O Palhaço. Aquele cara que abria ou fechava o espetáculo. Sua
maquiagem colorida no rosto, escondia seu dono, mas revelava uma identidade da
traquinagem típica de um garoto. A arte de aprontar, de fazer travessuras, não com
maldades, mas para brincar, é a essência do Palhaço.
Segundo que pude já cedo ter
um outro contato com esta maravilha. A televisão me proporcionou ao lado de
filmes e desenhos da Hanna Barbera, o contato com programas infantis, que tinham
como protagonistas, o Palhaço. O Brasil foi e ainda é um celeiro destes
artistas. Pude conviver com verdadeiras lendas vivas deste imaginário da
criança. Carequinha, Piolin, Torresmo e muitos outros. Mas um em particular,
destaco: ARRELIA. O palhaço era um encanto, sua habilidade em fazer um garoto
sorrir era inimaginável. O personagem era doce, vindo mesmo da vontade dos
Deuses do Universo. E era real ao mesmo tempo. Chorei muito quando este amigão
foi para o céu (ou Olimpo).
Esta figura milenar, tão
incompreendida e achincalhada por adultos nos dias de hoje e de antigamente,
tem uma origem linda. A expressão vem do Latim Pagliaccio ou Ommo de Paglia, o
Homem de Palha ou ainda Homem do Campo. Oriundo da Idade Média, teve seu
antecessor o Bobo da Corte, que apesar do termo pejorativo, tinha o objetivo de
alegrar as cortes dos Reis e Rainhas. O
Pagliaccio é uma invenção dos pobres, em especial das populações rurais. Ele
representa os anseios e desejos humanos, bem como coloca a nu as fragilidades
do ser humano. Chapin e seu hilário Carlitos representou na era do cinema mudo,
a versão moderna do Homem de Palha do Feudalismo e do Renascimento.
Carlitos não escondia seu
inconformismo com as injustiças sociais. Seu personagem era pobre de maré jesi.
Suas lutas tinham como inimigos os proprietários de indústria e comercio. Não era
a toa que a policia sempre o perseguia. O Palhaço Carlitos, era solidário com
os que sofriam, principalmente crianças. No filme O Garoto, sua proteção a um
menino abandonado pelos pais e condenado a um orfanato parecido com as Febens
de antigamente, mostra uma das qualidades do Palhaço.
Nestes dias de Carnaval,
outra questão que deve ser melhor compreendida, passo a entender melhor a
função e a existência deste ícone de nossa Arte. O Palhaço é um artista das
ruas, não é um elemento para denegrir a imagem ou caracterizar o caráter de uma
pessoa. Fazer pilheria com alguém o taxando de palhaço, e estar cometendo um
crime a um personagem que constroem o bem. Há tempos tenho retirado de meu vocábulo,
para uso de xingamento esta expressão. Um ser que produz alegria e esperança a
uma criança, não pode ser sinônimo de enrolação, enganação, mentiras.
Não assisti (preciso), o
segundo críticos e que viu o belo o Palhaço de Selton Mello, com ele e Paulo
José. A História de um Jovem de circo que desiste de ser Palhaço e tem em seu
Pai um velho fazedor de riso um espelho para não abandonar a arte de fantasia e
do real. Ser Palhaço é dar boas vindas a criança é apresentar a ela o sentido
da vida.
Este texto é uma Homenagem a
este personagem que embalou a minha infância e embala a infância de meu neto
(Eu já apresentei o Arrelia a ele). Em particular dedico estas linhas ao grupo
Cirurgiões da Alegria e ao Vereador e Presidente da Câmara Ronei Martins, que
com seu Palhaço diverte e leva esperanças á crianças vitimadas por doenças
muitas delas graves nos Hospitais da cidade.
Para
terminar o Bordão repetido até hoje do consagrado Arrelia: “Como vai? Como vai? Como vai? Como vai? Como vai,
vai, vai? Eu vou bem! Eu vou bem! Eu vou bem! “
Parabéns pelo Blog e aproveitando que saudade dos palhaços acima citados. Bons tempos de inocência, a propósito: Eu vou bem,muito bem bem bem.
ResponderExcluirAbraços
Rodolpho
Temos vários caminhos que nos levam a aprendizagem. O palhaço é, antes de tudo, um esteriótipo daquilo que gostaríamos de ser. Uma pessoa que faz o bem e ainda tem tempo para ser feliz. Boa a sua reflexão, sobre o "ser palhaço". Esse termo deveria ser mais respeitado. Parabéns!
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