No inicio dos anos 70 do século
passado, meu pai, resolveu, interromper seu oficio de Metalúrgico, e tentar a
sorte em um novo ramo, o do comercio. Abriu um bar na Rua Paraíba, na Vila
Esteves, em Limeira. Nós filhos frequentávamos, após as aulas o
estabelecimento, juntamente com minha mãe que lá ajudava meu pai. Vários
personagens da vida real passam pelo bar. Boleiros, donas de casa, operários,
os pobres em geral. Um em especial me chamava a atenção e não esqueço dele.
Tratava-se na época de um adolescente, negro, cujo nome nunca soube, e todos o
chamavam de Choriço, claro em virtude da cor de pele.
Não sei por onde anda, o
então garoto, nem se ainda é vivo. Guardo lembranças de uma figura, alegre,
brincalhona, que ao mesmo tempo vivia e falava como um adulto, brincava comigo
um menino de oito anos de carrinhos e futebol. Era um craque, eu um perna de
pau. Choriço, as vezes desaparecia por dias. No inicio nós crianças não tínhamos
a mínima ideia dos motivos de seus sumiços. Os adultos sabiam.
A vida injusta e desigual para com os pobres,
delineavam a vida do neguinho. Para sobreviver, enveredou para pequenos furtos
(nosso bar não mexia uma virgula), e era preso ou simplesmente sumia. Estes
sumiços e prisões, tinham como consequência, o corpo cheio de hematomas,
preconceito da vizinhança e perseguição as vezes sem motivo de policiais.
Naquele tempo, não havia
leis de proteção a criança e ao adolescente, nem mesmo politicas públicas de
prevenção, educação e recuperação de um infrator. O Estado quase se eximia das
responsabilidades.
Só no final dos anos 1970, é que pressionados as autoridades
criaram (no período algo revolucionário) as FEBENS, que com um tempo, o descaso
governamental as transformou em uma sucursal do inferno. Choriço cometia
crimes, tinha que ser punido por eles, mas não se justificava as torturas,
perseguições. O garoto nunca teve uma chance de conhecer o paraíso, a ele só o
inferno era apresentado.
A luta dos movimentos de
defesa de direitos, foi árdua durante mais de três décadas. Denuncias de maus
tratos nas febens, de ausência de politicas públicas, de prioridade Estatal a
criança, pelo como de legislação de proteção e de garantia de direitos. O ECA
como é popularmente conhecido, o Estatuto da criança e do adolescente, foi uma
das principais conquistas destes movimentos. Prestes a completar 23 anos de
vida, o ECA, é um instrumento eficaz de combate aos abusos e de garantias dos
compromissos do poder público com a criança. Se Choriço fosse adolescente hoje
talvez ele teria uma chance de viver bem.
No dia de hoje em toda a
cidade, ocorre (ou ocorreu se você leu depois de domingo), as eleições para
mais um mandato do Conselho Tutelar, mecanismo criado pelo ECA. Os
Conselheiros, tem como função não só garantir a execução da legislação, mas
promover a plena infância e adolescência. Lutar para que o ambiente familiar
seja de paz e tranquilidade e nele a criança possa se desenvolver feliz, é
exigir que o Estado e a sociedade cumpram a sua parte, de promover acesso a
Educação, Saúde, Cultura, Esporte e outros. Proteger o menino e a menina do
crime e dos abusos de algumas autoridades policiais é tarefa também do Conselho
Tutelar.
O órgão é legitimo, não só
por sua definição no Estatuto, mas porque a população de forma direta vota para
sua constituição. Embora representativo, o CT, pode e deve estimular a
democracia participativa, dialogando constantemente com a sociedade,
constituindo parcerias para o bem estar da criança e do adolescente.
Vou votar daqui a pouco, é
minha obrigação quanto cidadão. Mas votar é pouco é preciso contribuir para que
nossas crianças realmente “CANTEM LIVRES”, como diz o poeta. Para isto
participem, cobrem do Governo, denunciem os abusos, façam sugestões de
politicas de inclusão. Nossos meninos e ,meninas agradeceram. E o futuro também.
É incrível como problemas tão evidentes, muitas vezes, passam despercebidos pela sociedade. Cuidar de nossas crianças é algo elementar em qualquer sociedade desde que o mundo é mundo. Infelizmente a "sociedade moderna" consegue ficar distante de suas responsabilidades para com a continuação de sua espécie e a melhoria da sociedade a qual servimos. Cuidar de nossas crianças é cuidar do futuro, cuidar da vida, cuidar da perenidade de nossa cultura.
ResponderExcluirÉ muito importante ficarmos de olhos bem abertos para a exploração de crianças e adolescentes que ainda existem em nosso pais. O ECA é sim um meio de combate a esse tipo de atrocidade para com o nosso futuro, porém, somos nós os guardióes e defensores dessa causa, "Não bata, eduque!" é preciso lembrar que um bom apoio na infância e adolescência levam a ser um cidadão de bem no futuro... Por isso é muito importante guardar, vigiar e cuidar para que nossas crianças realmente "CANTEM LIVRES!"
ResponderExcluir