A cada fato trágico de assassinato,
estrupo, roubo, ou qualquer outra ocorrência criminosa, envolvendo
adolescentes, volta a tona a discussão da redução da maioria penal. Grande
parcela da imprensa, parlamentares, entidades da sociedade civil, atribuem a
medida, a única capaz de acabar com a violência. Atribuem ao menino e menina,
que mal saíram da infância, todos os males da terra. Os discursos são os mais
torpes e ridículos. Tribunais informais são feitos todos os dias para
sacrificar “os menores”, como monstros, que devem ser penalizados como adultos.
Se no Brasil tivesse pena de morte, com certeza esta seria uma das propostas.
Os defensores da redução o
fazem de forma paranoica e com argumentações das mais reacionárias. Outro dia
li alguém postar na rede, se o adolescente pode votar aos 16, por que não
responder na justiça com esta idade? Ou as conversas mole, de que há muita
liberdade hoje em dia, antigamente o pai reprimia com tapinhas e o filho se
tornava um Homem. Situações deste tipo, comparações de tempos em que a
conjuntura era outra, onde direitos sociais e humanos não figuravam nas agendas
das autoridades politicas e judiciarias, de um tempo em que não vivíamos períodos
longos de democracia como este, não cabem neste debate.
A sociedade evoluiu, no
conceito de privilegiar o ser humano no que tange a direitos sagrados para a
sua sobrevivência. Não se pode falar mais de desenvolvimento, sem distribuição
de renda e com garantias fundamentais para se viver. Isto posto, é preciso
fazer uma leitura do Brasil do Século XXI. Não é mais o País dos Golpes
militares, não é mais a terra do faz de contas ou do vale tudo. Embora avanços
significativos tivemos ao longo dos últimos anos, ainda nos deparamos com
problemas cruciais. Dois deles mantem relação estreita: A miséria e o crime
organizado.
A primeira fruto de governos
de desmandos e de politicas de concentração de renda, ao longo de muitas
décadas. Chegamos no inicio dos anos 2000, ao numero assustador de mais de 53
milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Hoje mesmo com alguns programas
sociais e mesmo com o discurso do governo federal de que a prioridade é
erradicar a miséria, ela é ainda uma realidade e continua tendo sua origem na
concentração e na ausência de políticas públicas.
O segundo problema é causado
pela impunidade e pela corrupção. Um País que não pune com severidade e permite
a quase institucionalização do roubo aos cofres públicos, permite que a
ilegalidade se organize para manter privilégios até de detentores de poder. O
crime organizado é uma realidade no Brasil e não estou falando de ladrão de
galinhas. Me refiro aos grandes esquemas de tráficos das mais diversas
atividades, desde drogas á licitações de obras e serviços públicos. O crime
organizado com conexões em todas as esferas de poder e da sociedade, é sem
dúvida nenhuma um dos principais pilares para a existência da miserabilidade.
Pensar no combate ao crime,
com foco no varejo, é fazer vistas grossas a impunidade de chefes e tutores de
organizações criminosas que dilapidam o patrimônio público. Faz-se necessário
para estes “esquemas”, uma situação de caos e de confusão quanto as raízes do
problema. A desintegração de estruturas familiares sólidas, tem a ver com
politicas públicas ineficientes e a constante concentração de renda.
Não vou esgotar o assunto,
vou retoma-lo em um segundo texto. Mas se alguém comprovar que com a redução, acabaríamos
com o crime organizado, sem dúvida assino quantos abaixo assinados tiverem
sobre o assunto. Não imagino que levar um adolescente a ser tratado como um
adulto no sistema penal, seja a solução. Nossas cadeias, penitenciarias, são
verdadeiras escolas de aperfeiçoamento do crime e de arregimentação de soldados
do trafico.
Esse tema infelizmente nunca é discutido na sua essência por muitas pessoas, e sim, apenas buscado a solução mais fácil e rápida: redução da maioridade penal.
ResponderExcluirHá até partidos políticos entrando nessa e usando como argumento justamente o direito de poder votar para justificar a redução. O PSC utilizou-se de seu programa partidário na rádio e TV para defender essa tese. E se dizem ainda defenderem a Família!
Se o sistema de reclusão juvenil funcionasse na íntegra, aí eu concordaria com a redução da maioridade penal, mas passados 23 anos, pouco ainda foi implantado.